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Jhony D Wolf

A Beleza de Uma Batalha

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A Beleza de Uma Batalha

A tarde está quente... muito quente. O Sol esquenta a terra, queimando o cenário em tons avermelhados. O calor é tanto que a visão embaça. E é nessa tarde que eu vou matar... ou morrer. As espadas estão afiadas, desejando sangue quente para beber. Os olhos estão presos acompanhando os movimentos da possível vitima ou provável algoz.

Nossos destinos irão se decidir hoje.

Ele tem mais velocidade, flexibilidade. Parece feito de borracha. Balança suavemente o braço, empunhando sua lâmina, dourada de tanto conhecer a cor das entranhas. É uma arma assassina. Feita para cortar cabeças, expor víscera, enviuvar mulheres.

Aqui, diante de meu inimigo, o motivo não importa mais. A luta é iminente, desistir é desonra, conversar é inútil. Já desembainhamos nossas espadas e agora precisamos dar a elas arte.

Ainda estamos nos estudando, avaliando cada gesto, cada olhar, tentando descobrir alguma fraqueza.

Uma folha cai de uma árvore antiga, passando por um segundo diante de meu olho esquerdo. Nesse instante mínimo, eu recebo a primeira investida. Por pouco não tenho meu peito rasgado. Minha esquiva lhe deu outra vantagem. Ele gira e tenta cortar meu pescoço. Nossas lâminas se chocam e cantam.

De costas para mim, ele me deixa com a vantagem. Meu braço se contorce, a lâmina aponta para o chão e depois sobe com violência. Com seu corpo ágil, ele deixa minha frustrada lâmina apenas com o sabor do pano de sua roupa.

Preciso de espaço. Afasto-me dois passos. Olhos fixos no inimigo. Nenhum outro pensamento que não seja a batalha. O corpo gira e encontra uma árvore. Quando ele tentar me cortar, devo ser rápido para tirar-me de sua direção.

A lâmina dourada corta o ar, fazendo-o assobiar. Eu salto para o lado direito, ficando de joelhos a tempo de defender o golpe que atravessara uma árvore milenar. Mesmo retendo o golpe, isso não me impede de ser arremessado para cair deitado. Ele salta e a luz do sol atrás dele me cega.

A espada corta a terra. Ele gira e consegue cortar meu braço num ferimento profundo. Isso o satisfaz e o deixa em êxtase. Posso ver em seus olhos que todo o prazer que a espada sente passa por ele também. Ele bebe do meu sangue, bebe com sua espada imunda.

Em fúria, eu passo a tomar mais iniciativa.

A dança se inicia, dois espadachins em movimentos rápidos, girando o corpo, traçando golpes, sempre sob o ritmo ditado pelo canto do metal.

Esse ritmo é exaustivo, nenhum de nós poderá agüentar muito mais. A questão agora é: quem vai cansar primeiro?

Sua espada choca-se contra a minha, de novo e de novo. Chutes e empurrões para dar um descanso de um piscar de olhos ao corpo fatigado.

O sol fica entediado de nosso jogo e começa a nos deixar. O suor de nossos corpos já mostra o quanto estamos dando de nós mesmos.

É quando um fraquejo em meu joelho esquerdo me faz perder o equilíbrio. Ele também já está fraco demais e perde essa oportunidade. Porém, meu joelho não agüenta mais o esforço. A perna inteira o acompanha e me faz tombar.

Meu inimigo reconhece minha fraqueza e me causa mais dor. Por pouco ele não arranca meu joelho cansado juntamente com toda minha perna.

Isso deve ter fim. Eu abaixo minha lâmina e cravo-a no chão de areia. Meu corpo se rende à dor e começa a dizer à minha alma que a longa caminhada acabou.

O brilho dourado me parece cada vez maior. A espada faz o ar correr pesado em minha direção e eu percebo que essa é a hora de morrer. A lâmina da espada bebe do sangue, cantando mais uma vez com um tom mais grave.

Mas não a espada dele.

A minha.

Um pouco antes de girar sua espada, ele abriu a guarda, e deixou seu coração pronto para receber meu golpe. A espada do inimigo cai de sua mão aberta antes de chegar em meu pescoço. Ela vê seu mestre tombar em meu corpo e chora de infelicidade. Inveja do sangue que jorra vermelho, quente e salgado. E então eu bebo de seu sangue, como ele bebeu do meu.

Eu tiro a lâmina do defunto e fecho seus olhos que tantas mortes já viram. Um guerreiro morreu, lutando, com honra. E sua espada vai junto, embainhada para sempre.

Voltando para casa, limpo meus ferimentos e minha mulher trata de me fazer os curativos. Então eu vou para fora, sento na terra e sirvo saquê. Bebo por você, minha vitima. Você me deu a honra de uma grande batalha.

Obrigado.

Este texto foi escrito por mim há muito tempo, numa época que estava numa depressão profunda e atendia pelo nick de Satoshi. Tentei escrever outros, mas nunca cheguei a fazer algo tão bom como este....

Espero que gostem.

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