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Lopson

O País dos Pássaros, como testemunhado por Kino

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Uma nova história que tenho andado a tentar escrever desde que acabei "O País da Morte". Menos psicadélico e mais maluca que a última, presumo. Queria ainda agradecer a todos os músicos que me inspiraram a escrever isto.

Já sabem, se virem algum erro ou se acham que algo falta por aqui pelo meio, comentem.

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Por entre os céus altos e azuis, voavam máquinas de metal, feitas de esforço, suor e sangue humano, monumentos ao engenho humanos, destemido e improvável. No fundo do horizonte, estas máquinas enchiam o meu campo de visão, como chatas moscas a voarem por cima de lixo, à procura de algo que lhes agradasse. O mundo destas pessoas era uma cidade coberta por uma nuvem de poluição, fumos nauseabundos vindos das curtas chaminés das habitações e fábricas. As pessoas laboravam não na terra, mas em edifícios decadentes, todos de estrutura igual e conteúdos iguais: pessoas e metal. O calor das fornalhas era o suficiente para aquecer toda esta terra, tirando qualquer uso ao astro Rei que, com medo destes humanos, se esconde por detrás das espessas camadas de neblina. Ele, triste com este estado das coisas, simplesmente suspirava, pois nada mais podia ele fazer. Eu, também, suspiro, não pelas mesmas razões que o Sol, mas sim porque todo este cheiro nauseabundo havia, finalmente, chegado aos confins do meu crânio, invadia-o por todos os meus orifícios, violava a minha higiene e espaço pessoal.

Conto 7, não, 8 aparelhos voadores a levantarem voo, pássaros raros todos da mesma raça, a recusarem-se a manter no chão, como as leis dos Deuses assim ditava. Posso os ter comparado a moscas, mas o som que produzem nada se assemelha a estes insectos, um rugido de leão seria o mais correcto. Ecoa pelas estreitas ruas que agora mesmo atravesso com Hermes, lentamente, visto não saber se existe, de facto, algum tipo de limite de velocidade, e também porque depressa nada se vê. Apesar de ser pouco convidativo, vamos na mesma visitar este país, mas sem um quarto de hotel reservado, a noite seria um pouco difícil, humanos nocturnos sempre foram mais perigosos que os seus equivalentes animais.

Num canto obscuro, escondido do calor deste ser vivo enorme que é a cidade e do calor do Sol, encontramos um velho edifício com um velho sinal, de luzes brilhantes, a nos convidar a passar a noite. Travo lentamente, lentamente, Hermes, desmonto-o seu assento e carrego-o para o interior desta casa, juntamente com o meu corpo. Através da porta de madeira elaborada, com símbolos e figuras escavados nesta velha pele de árvore, com um pequeno vidro amarelado, encontrava-se um jovem empregado, plantado à cadeira da recepção, aguardando o nosso pedido, o nosso dinheiro, o seu lucro, a sua comida e bebida. Com uma voz quente e acolhedora, obriga-nos a seguir o seu rasto de palavras secas e vazias até ao nosso quarto, onde dormiremos esta noite. À nossa esquerda está uma cama, colchão confortável, produto nacional desta máquina industrial que é este país, coberto com o melhor tipo de roupa de cama, importada das terras do oriente, local distante para o qual eu e Hermes nos dirigimos. O quarto de banho, essa peça fenomenal, tem tanto uma sanita como um lavatório e uma banheira e um bidé, este último sendo uma peça de porcelana útil para higiene pessoal feminina. Apesar do aspecto exterior, o interior manteve-se em bom estado, talvez pela falta de uso, talvez pelo zelo que o dono do estabelecimento tem, talvez por acaso do destino. Desço as escadas, encosta escalável desta montanha de três andares, juntamente com Hermes, estamos já perante o balcão, a pagar nossa estadia nesta terra, neste hotel. Juntamente com as chaves, o rapaz informa-nos ainda dum grupo terrorista que se tem vindo a ocupar de destruir todo o tipo de veículos aéreos, meio de transporte principal para estas pessoas.

Apesar de não ser o primeiro país que visito com este tipo de pássaros artificiais, é o primeiro com um número tão elevado deles. Para além do mais, as suas formas diferem totalmente daquilo que havia conhecido em viagens passadas. A cabine do veículo era propulsionada para cima com a ajuda de dois pares de remos, ambos dispostos horizontalmente, colocados sobre a cabine, e de uma outra dupla de pares de remos colocados no fundo da cauda, dispostos verticalmente. Levantam voo verticalmente, como se dum mágico flutuante se tratassem, tentando-me mostrar de como nada disto se tratava duma simples ilusão.

“Que tipo de motor será que usam?”

A alegre voz de Hermes contrasta com tudo o que nos rodeia.

“Um motor tenebroso, se tomarmos a sério o barulho que libertam.”

Querendo-me mostrar o seu potencial, num rasgo inesperado de inveja, Hermes faz roncar o seu sólido motor a diesel. Nada mais posso fazer para além de libertar uma leve gargalhada.

“Olha que o meu motor não fica atrás do dele!”

Poiso a minha mão no seu farol frontal carinhosamente.

“O teu motor é aquele pelo qual me apaixonei, para mim nada o consegue superar.”

Por entre o ruído do seu motor e o ruído do motor deles, oiço o ruído de protestos pelas ruas desertas, paisagens arenosas sem fim, onde o sol queima a cabeça de todos. A cabeça deles, essa também estava a ser queimada, o interior de todos aqueles crânios estava a ser incinerado pelos paradoxos artificiais, criados, imaginados pela mente humana, usados como dogmas, constituindo uma religião, criando um ser supremo, intocável. As suas vozes de ordem em nada se impunham, os pássaros ignoram-nos, tapam os seus ouvidos, os seus olhos, apenas abrem a boca para bocejarem. Nos cartazes coloridos estão letras que eu não consigo ler, com setas apontadas ao céu. Apontam para o vosso Deus? Não vos ensinaram que apontar é feio? Provavelmente não, não eram os primeiros sem essa suposta regra de boa-educação.

No topo do céu, invisível aos meus olhos, um grande Senhor lhes acena de volta, retornando o chamamento dos puros humanos, lançando apenas um olhar de desprezo aos pecadores voadores, aqueles que domaram metal e petróleo para fazerem um trabalho que pertencia apenas a Deus e às aves: voar. A poluição que as máquinas libertam pelos seus traseiros poluiu a Natureza, obra de Deus, tornou os solos inférteis, apodreceu as águas, enlameou o ar, meu Deus, que vai ser de nós, que vai ser de nós fiéis. As palavras do transeunte a quem perguntei o que se passava eram-lhe postas na boca pela sua fé, prontamente as ignorei e voltei-me para o meu destino original, o museu da aviação, "Aquele homem era um bocado maluco, não era Kino?", fizemos já metade do caminho, "Tens toda a razão, Hermes, notou-se logo pela forma como chorava enquanto falava. Aquelas lágrimas não eram transparentes, Hermes, eram cinzentas como o ar que nos rodeia.", chegámos ao edifício vermelho, de tijolo, faz-me lembrar das fábricas que haviam no meus país de origem... Aliás, no país onde nasci. As chaminés de motores a vapor são a prova final que necessitava, erguem-se por entre esta selva de cimento e alcatrão e metal e sujidade, tenta destacar este sítio onde me encontro, como um obelisco das civilizações antigas, mas a atenção que tenta chamar facilmente se perde nas tarefas da rotina dos locais e nos passeios sem sentido e objectivo dos poucos visitantes que aqui colocam os pés, dos comerciantes nem se fala.

No interior do edifício, logo na entrada, à minha esquerda, sentada no centro duma secretária, com o cabelo perfeitamente penteado e o seu corte alinhado com os ombros, estava uma senhora de feições marcadas pelo passar do tempo, esse vento erosivo lento, esperando a entrada de turistas como nós. Com um só passo para trás, as suas ancas e as suas mãos e os seus braços empurraram a cadeira onde se encontrava sentada para trás, um som de arrasto de rodas fez-se ouvir, ecoou, voltou a ecoar na minha mente, foi exactamente 37 centímetros para trás, com um leve gesto endireitou as dobras inexistentes na sua saia, verificou se as suas colantes estavam direitas, estão direitas, levanta o pequeno chapéu que tem na sua cabeça, em forma de barco de papel, coloca-o de novo sobre o seu cabelo numa posição demasiado conhecida por ela, tanto é que o próprio cabelo já tem a marca das bordas do chapéu vincadas nele, com sete passos sai detrás da sua secretária, aproxima-se de nós com outros sete passos e cumprimenta-me.

"O meu nome é Cashtre Tetra, intrépida viajante, sou a guia deste belo edifício, o Museu Nacional de Aviação."

"O meu nome é Kino, prazer em conhecê-la."

Hermes parece verdadeiramente incomodado pela falta de respeito que esta bela, apesar de velha, senhora lhe ofereceu.

"E eu, não mereço um simples "olá"?"

Claro que tal interjeição não passará sem castigo, companheiro de viagem. Uma seca sapatada no farol da frente é o suficiente para o fazer se arrepender de alguma vez ter dito uma coisa tão rude. Cashtre parece verdadeiramente espantada com Hermes, presumo que nunca tenha visto uma mota falante.

"Que bela máquina terrestre. Como te chamas?"

Um pouco envergonhado por receber um elogio tão sincero, Hermes hesita um pouco antes de dar uma resposta. Eventualmente consegue gaguejar o seu nome a Tetra, que amigavelmente responde com um "Prazer em conhecer-te".

Os corredores à nossa frente estendem-se infinitamente, como se o edifício tivesse tentado esticar-se até atingir o mesmo tamanho que toda a história que nos é apresentada por Cashtre. Os quadros, as fotografias, os monumentos de guerra a pilotos de guerra, uma história que nasceu do suor dum par de mulheres e cresceu bebendo do sangue de todos aqueles que se revoltaram contra este país. No meio de tanta morte, o engenho humano expandiu o pássaro metálico até se ter transformado no tipo de aparelho que tanto teima em sobrevoar todo este país, o seu nome é helicóptero. Com a ajuda do líquido preto que faz carburar todo o tipo de motor, incluindo o de Hermes, levantam verticalmente do chão até a grandes alturas, podendo ser usado como veículo pessoal, militar ou mesmo comercial.

No inicio do uso do helicóptero, há 70 anos atrás, a Igreja de Vorvitus, o ser dos Céus, incentivou uma grande revolta na população em geral, esse dia ficou conhecido como "O Dia do Primeiro Voo". No meio do caos instalado nas ruas, fiéis conseguiram penetrar a base militar na qual residiam os inventores desta máquina voadora e prontamente os assassinaram. Dizem que foi um momento verdadeiramente cruel de se assistir: "O Galo", um dos fiéis, agarrou-se à garganta de Goshpin Jackerflet, o inventor do engenho de propulsão, e espetou as unhas das suas duas mãos na garganta dele, seguido imediatamente do arrancar de toda a maçã de Adão do cientista e finalizado com o invadir o esófago da vítima com os seus punhos fechados, como se estivesse a tentar arrancar todo o tubo digestivo duma só vez. Krepp Pernelt, o homem por detrás da forma do helicóptero, sofreu uma rápida morte, um simples tiro no crânio disparado por "A Avestruz". A situação foi tão grave que, para repor ordem civil nas ruas, o Governo da altura decidiu decapitar os dois famosos assassinos em público, declarando vitória sobre o atraso mental que a religião impunha sobre os seus fiéis. Muitos daqueles que prestavam culto da Vorvitus converteram-se à Ciência, uma religião sem Deuses, apenas Santos, cujos dogmas centrais estão sempre dispostos a mudanças, mas ainda resta um pequeno grupo que, recentemente, tem voltado à carga (desta vez de forma pacífica) contra o uso de helicópteros.

Cada palavra de Tetra coloca-nos mais perto dum hangar subterrâneo, onde vários veículos históricos estão expostos ao público. Eu toquei num dos aviões de guerra com a minha mão direita, ainda estava coberto de lama e pólvora e morte. Tento sacudir tudo isto para fora da minha pele, mas está agarrado à gordura que este órgão segrega, tentando-me fazer entender que esta doença, a sede por sangue humano, é transmissível de aviões para humanos. Hesito em perguntar por uma simples casa-de-banho, Cashtre aproveita este meu momento de fraqueza para me empurrar mais para dentro desta besta enterrada, defunta. Com cada minuto que passa, sinto a minha mão cada vez mais suja, 7 minutos já se passaram, a minha pele está imunda, 14 minutos passaram, a minha mão está infectada, tenho que a cortar fora, 21 minutos passaram, finalmente imponho a minha vontade à guia, ela limita-se a indicar o caminho mais rápido, corro para lá com Hermes.

Olho-me no espelho com uma cara rara de satisfação, sinto-me pronta para me voltar a imergir em conhecimento arcaico. Saio do apêndice intestinal deste monstro que me engoliu, agarro em Hermes e arrasto os nossos corpos para o lado da guia. Pelos corredores onde estavam paradas as antigas máquinas de guerra, monumentos à dor humana, o tempo da sua destruição finalmente chegou, o fogo consome tudo, os homens de Deus correm por todo o lado, a guia está morta, estendida no chão, o seu corpo a se esvaziar, o seu líquido vital a ser consumido pelo fogo, a chama finalmente espalha-se até aos seus cabelos inanimados, lentamente espalha-se para a sua roupa, para a sua pele, esta visão é nojenta, afasto os meus olhos. à minha volta, os anjos rodeiam-me com as suas armas, aquelas que cuspiram todo este fogo, aquelas que olham para mim e Hermes com um olhar assassino. Eis o comandante, o emissário da vontade de Deus neste planeta feio, oh tu, fala, profere as tuas palavras de sabedoria, transmite-me o conhecimento que só tu me podes oferecer.

"Quem és tu, rapaz?"

"Sou um viajante destemido."

"Vejo que tu amas a terra que pisas, aventureiro."

Olha para a minha mota como se visse nela um sinal de submissão à Sua vontade, à sua vontade.

"Porque dizes isso?"

Antes que pudesse ouvir qualquer tipo de resposta, Hermes demonstra-me que nada aprendeu com a sapatada de há pouco.

"Este homem é um pouco assustador, Kino."

"Cala-te, Hermes."

Ao contrário da guia, esta figura sagrada não se mostra espantado com o facto de Hermes falar, apenas toma o facto de bom grado.

"Vorvitus está zangada, sabes, sempre esteve, desde o início do mundo. Mal o planeta havia nascido, na sua raiva insana, Voritus encheu a terra de fogo e lava, pulverizou toda a superfície até ficar castanha e queimada, morta. Mas das cinzas nascemos, juntamente com todos os animais. Foi então no início da vida que Ela criou o Sol, esse símbolo supremo de ódio, para nos queimar lentamente. A vida, tenaz como é, decidiu virar-se contra o seu próprio criador, lutando arduamente contra a bola de fogo que paira sobre as nossas cabeças. Ano após ano, século após século, milénio após milénio, nós nascemos, crescemos e morremos, construi-mos tudo aquilo que precisávamos para desferir o golpe final a esta besta odiosa que nos pariu. Foi então que nós todos chegámos a uma terrível conclusão: sem o seu ódio por nós e o nosso ódio por ela, nunca poderíamos ter avançado tanto quanto o fizemos, esse sentimento é um valor imutável e essencial das nossas vidas, o que aconteceria se ficássemos sem ele? Por isso mesmo é que lutamos por um mundo cheio de ódio, um mundo que esteja demasiado ocupado a odiar-se para se lembrar de subir aos céus, À Casa de Vorvitus, para A assassinar de vez. Estes aparelhos voadores são um perigo para o nosso desenvolvimento, pois podem destruir a parede entre o mundo e o Seu Criador."

"Mas se deixarem a situação prolongar-se, o mais provável é que sejam consumidos pelo vosso próprio ódio."

"Que o seja! Deixemos o ódio matar-nos, desintegrar-nos, que as suas chamas nos queimem tão lentamente como estão a fazer àquela pobre mulher, que a luz daquilo que nos mata brilhe tão fortemente como o próprio Sol. Os humanos não precisarão do astro Solar para espalhar a dor e a morte, nós criaremos um novo Sol, mais temível, mais quente, que derreterá tudo o que vive, sim, os nossos corpos serão o combustível para essas chamas espaciais, será tão belo, rápido, quero ser queimado, rápido, quero ser morto, rápido, quero ver o meu corpo iluminar tudo o que vive nestas terras, Vorvitus, eu Te protegerei, farei com que ninguém te magoe, porque eu sei, oh se sei, que a boa vontade humana é o que mais te magoa, essas palavras amigáveis são como lanças na tua pele, espetam-se em ti, sangras, pintas as nuvens de preto, choras, chove por todo o lado."

No fim deste rasgo de insanidade, todos os fiéis aplaudem o locutor sagrado, viva, é isso mesmo, apoiado, temos que aumentar a parede, pedra a pedra, todos gesticulam loucamente os seus braços, pulam uns contra os outros, um momento de êxtase único, um orgasmo em nome de Deus e dos seus ensinamentos detestáveis, uma dança à roda da chama do ódio, mas eis que param a sua festa infernal, todos se voltam de novo para mim.

"Que vão vocês fazer connosco?"

"Apenas queremos que te vás, viajante, vai no ódio do Senhor. Hoje é o dia em que todos os pássaros voadores, esses helicópteros, serão destruídos. As pessoas terão que voltar à terra que tanto renegaram, usarão as suas pernas para caminhar a estrada do ódio. Hoje é o dia em que este país será engolido pelo nosso ódio, de forma a se esquecerem destas supostas maravilhas tecnológicas."

Ele baixa-se até ficar ao mesmo nível de Hermes, de forma a lhe poder falar.

"Oh mota falante, continua a percorrer estas terras maravilhosas, que o som do teu motor, bem mais maravilhoso que o daqueles helicópteros,  ecoe por todas as planícies, que sirva de aviso a tudo o que vive no chão que ninguém pode voar, pois o ar apenas pertence a Deus e aos seus descendentes, os pássaros."

"Não percebi nada do que disseste, mas se foi um elogio, obrigado! És um homem engraçado."

Não devemos perder nem mais um minuto neste covil de fé insana. Vamos, Hermes, fujamos para o exterior, ligo o teu motor, monto-te suavemente, acelero-te, tudo à nossa volta começa a desaparecer, a se desfazer, adeus, Tetra, eras uma pessoa maravilhosa, tenho a certeza que voaste tão alto como um pássaro, estamos já nos corredores cheios de quadros, quase todos eles foram rasgados pelos fiéis, as suas molduras desintegradas ao pontapé e martelo, as suas telas penetradas com facas e foices, as caras dos heróis mortos, dos heróis vivos, de Tetra ao lado dum bombardeiro, segurando numa bandeira que continha o nome da sua tripulação, Enola Gay, ao seu lado estava aquele com o qual tinha falado há pouco, as janelas partem-se com as explosões dos aparelhos que há pouco via a arder, presumo que seja todo aquele petróleo que tenha explodido, os estilhaços das janelas são demasiado lentos para nos apanharem, os poucos quadros que ainda estavam pendurados caíram ao chão, é o fim, o fim deste passado, o fim desta história, o fim deste país.

Estamos cá fora, tudo arde, as pessoas, os prédios, os helicópteros, mas ignoro tudo, vou em direcção à saída deste país mais próxima, desvio-me dum transeunte que corre pela estrada a tentar fugir dum grupo de fiéis, oiço um estrondo lá à frente, vejo um poste de iluminação a ceder, acelero Hermes, passamos mesmo no momento certo, o poste espetou-se numa mulher que segurava a sua criança, olha, Hermes, a saída, estamos cá fora já, mas não paro, continuo a fugir, até isto tudo não passar dum ponto longínquo no horizonte.

Ando já há meia-hora na estrada, finalmente decido parar para olhar para trás. No caminho que atravessei até aqui, não vejo ninguém a se escapar do país. Lá ao fundo, tudo arde, a luz é tanta que parece que é de dia.

"Ele conseguiu o que queria, Hermes, tornou-se num Sol."

Hermes mantém-se calado durante sete minutos e finalmente acaba por dizer algo.

"Ele pensava que tu eras um rapaz!"

Sapatada no farol.

"Kino, essa doeu! Não tenho culpa que não sejas muito feminina. O pior disto tudo é que nem o tentas ser!"

"Não tens nada a ver com isso, sua mota parva."

Ambos nos rimos, a luz que iluminava os nossos corpos em plena noite aumenta de intensidade.

"Ouviste o que ele disse no fim? Ele também gostava mais do som do meu motor que o daqueles helicópteros."

"Não te preocupes, Hermes, porque esses teus rivais nunca mais voltarão a fazer um único som."

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Muito bom, como esperado pelo Frankie Muniz

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Quem dera ao Muniz comer dois cestos de pão sozinho.

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