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Kero-Chan

Terra Mãe

9 mensagens neste tópico

Havia já duas semanas que o seu pai estava internado.. o que o afligia era incerto e ninguém, nem os médicos, sabiam o que o afligia. Os seus avós tinham-se mudado para sua casa para cuidar do jovem rapaz enquanto o seu único filho, no hospital, não recuperasse. Esse tempo passara-se o mais normal possível, o rapaz entretendo-se com o que podia como todos os rapazes de treze anos fazem.

No entanto, foi naquela noite fatídica que o telefone tocou. O brinquedo que desmontava caiu-lhe das mãos. Até este dia ele jura que sabia. O que se seguiu foi um grito da sua avó, a mulher que o criara, chorando a morte do seu único filho. A realidade abateu-se sobre o pobre rapaz com todo o seu peso e ele caiu por momentos. Caiu a sua misera fé, a sua crença e ao mesmo tempo ele não acreditou... não podia chorar, não agora. Os seus avós precisavam dele, ele precisava de ser forte... e teve de ser. Metodicamente dirigiu-se ao seu quarto, abrindo o guarda-fato branco com as pequenas maçanetas em porcelana e começou a escolher peças de roupa preta, como era costume. "Ó filho, vais-te vestir de preto?" Soou a voz frágil da sua avó. "Tenho de vestir... o meu pai morreu." Ele anunciou pesarosamente, engolindo as lágrimas. Seguiu-se uma torrente de telefonemas enquanto ele apenas olhava fixamente para a parede. Familiares que conhecia e que desconhecia jorraram pela porta, enchendo o pequeno apartamento. Todos davam o seu pesar e.. mesmo rodeado de família, ele sentia-se só. Só num mar de gente que conhecia desde pequeno.

A máquina andava, tinha de andar e precisavam dele. Foi na noite que atravessaram as ruas de Lisboa em direcção ao Hospital da Marinha. Precisavam de preencher papelada, organizar o funeral e tratar de detalhes... Aborrecia-o, toda esta fria burocracia. Ele só queria deixar o seu pai em paz, para que pudesse descançar e repousar após tão árdua e ingrata vida. Foi ele que decidiu onde e como o seu pai ia ser enterrado, a hora da cerimónia fúnebre. o seu avô, que o acompanhava, não podia fazer mais nada senão virar-se para o seu agora último descendente e delegar-lhe, a uma criança ainda tão tenra, o fardo que lhe era imposto. Mas ele não o culpava. Tinha de ser forte por ele e pela avó.

O dia nascia lá fora, o sol espreitando, mortiço e frio, acima do horizonte, como que dizendo: "Glória a ti, marinheiro, que navegaste os meus mares e horizontes.". Foi na cruel luz de um novo dia.. o primeiro dia sem o seu pai neste mundo, que o pobre rapaz pegou no télemovel e ligou à sua mãe para lhe dar as tristes noticias. Como dizer isto? Como.. deixar esta mensagem fluir sem causar dano? Não havia maneira, como mais tarde ele veio a perceber, de dizer o mesmo por outras palavras.

"Mãe?" Soou-lhe a voz, tremendo mas corajosa, o fôlego gelando na manhã de dezembro. "O pai... o pai morreu." Do outro lado da linha silêncio, por um único segundo e depois choro. O rapaz contou à sua mãe os detalhes que ela precisava de saber antes de desligar, deixando o velho télemovel que um dia pertenceu ao seu pai cair no bolso do sobretudo. A viagem de volta a casa foram rápidos e dois dias passaram até à cerimónia... e então ele finalmente viu o seu pai, frio e pálido, deitado num caixão, rodeado de familiares. O pilar de força que ele tinha sido quebrou-se e abraçou-se à sua mãe como se fosse... a criança que realmente era e aí derramou as lágrimas que jurou serem as últimas. Ele tinha de ser forte, tinha de ser um homem. Tinha de provar ser filho do seu pai, ser forte e adulto.

Assim morreu a sua infância, deixando-a murchar enquanto o caixão era coberto de terra e os tiros soavam numa salva fora do cemitério.

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Gostei muito... Está aqui uma história muito triste, daquelas que costumam ficar um bocado para o lamechas, mas acho que te safaste muito bem.

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Está muito bem, se seguires a carreira de escritor acho que vais ter futuro ^^ .

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Quem sabe, talvez a siga mesmo :)

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Nao sei porque ma sesta historia é me familiar....

adorei mesmo, boa, conseguiste-me tocar ;)

e como dizes, o rapaz tem de ser forte e tem com certeza a ajuda dos seus amigos ^^

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A história é demasiado familiar.

As tuas historias conseguem dar-me arrepios 8O

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Bem parece que vou ser o único a discordar.

Já sabes que rulas muito a escrever e tal. Mas nesta história falta algo. Esta história não tem "estofo" para ser uma história principal. Ficava muito melhor como sub-história de uma outra história mais generalista. Nós somos logo arremessados para a história quase no seu climax, não havendo aquela construção suave ao longo do percurso da história.

É como se fosse um excerto de uma história, é o único aspecto negativo que tenho a apontar. De resto a qualidade da escrita e a descrição dos sentimentos das personagens continuam 5 estrelas.

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