Danda

Os Vigilantes da Noite (Originais)

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Preview: cont. de "Na escuridão do meu quarto" A luz ofusca aqueles que vivem de sombra. As sombras são apenas esconderijo para aqueles que não querem ver sua identidade revelada. A mesma sombra que sai da grande torre, envolve o mundo e trás consigo os temores da humanidade.

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Os Vigilantes da Noite



Os vigilantes da Noite, é a continuação da fanfiction "Na escuridão do meu quarto", mas pode ser entendida pelo leitor, mesmo sem terem acompanhado a primeira fic. Não se trata de pensamentos de seita e religião. Apenas um modo de interpretar uma parte do livro sagrado e,

transforma-lo em ficção.

Não quero ofender ninguém, de modo que peço, que se o leitor tem problemas de opinião sobre religião e, se ofende, não a leia.

Sem mais, espero que tenham uma boa leitura.

Comentários são bem vindos

[br]

Mensagem unida a: 10-06-2009, 19:16:17


Primeira Parte

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Sombras na escuridão

E havendo o Cordeiro, aberto o primeiro dos selos, olhei e ouvi um dos quatro animais, que dizia como em voz de trovão:



Vem, e vê.

E olhei, e eis um cavalo branco e o que estava assentado sobre ele tinha um arco; e foi lhe dada uma coroa e saiu vitorioso,

e para vencer."

"S. João; Apocalipse 6.1"

[br]

Mensagem unida a: 10-06-2009, 19:20:27


Um

Madrid.

Dona Constanza já não conseguia saber em que ano estavam. Quase ninguém o sabia, pois já não havia nada a ser contado.

Também não sabia como tinham chegado onde estavam e, nem o porque. Apesar de suas rezas fervorosas, nada mudava. Seu Deus parecia não lhe escutar.

Como aconteceu a muito tempo atrás, quando a filha, Rita, se envolvera com aquele homem. O mundo parecia tão pacato...tão ensolarado.

Ele não era do tipo de homem que deveria ter entrado na vida das pessoas. Mas ele entrou. Não ousava dizer seu nome, não por ser pecado, mas simplesmente para não magoar a filha, que ainda não cicatrizara as feridas feitas por ele.

Ganância era o que poderia defini-lo. Era um pobre coitado, que não tinha onde cair morto se não fosse pelos avós.

Mas este ostentava algo que não era seu. Falava barato e com classe, impressionado a todos, incluindo a menina boba que nascera do ventre de Constanza. Na época era uma mulher vistosa, de traços fortes e sofridos, devota a Igreja.

Agora já não tinha onde mostrar sua fé, a não ser pelo pequeno altar no canto direito da sala, que abarcava uma estatueta, e alguns bibelos de anjos. A bíblia velha, também, estava diante da imagem do Messias, sempre aberta, pronta para ser lida e tentar confortar o leitor.

Ela não confortou sua vida, nem a de Rita, quando após um ano de casado, a grande Torre que estava situada no antigo Portugal, chamou aquele que desgraçou sua filha.

Ele, com brilho nos olhos, não olhou para trás, seguindo para a fronteira, que anos depois, desapareceria e, seguiu para a cidade fortificada de Cascais.

Constanza estremeceu ao pensar naquele lugar. Todos sabiam, ou pensavam que sabiam, o que havia atrás daquelas muralhas rochosas. Pecados e escumalha da pior espécie. Apenas os que eram chamados, poderiam entrar lá para viver de coisas pecaminosas, junto do grande chefe.

Ao pessoas boas, haviam sido obrigadas a abndonar a cidade.

Diziam que a cada dez anos, 7 crianças nasceriam com o numero na palma da mão e, ninguém poderia impedir que estas fossem levadas para o tal lugar obscuro. Por isso, quando Nina nasceu, e Constanza vira a palma da mão da criança, se alarmou.

Saíram da cidade onde viviam e correram para o subúrbio escuro e fedorento, aos redores da antiga capital do país, que era conhecido como Espanha.

Após aquele dia, com os primeiros chamamentos, as fronteiras deixaram de existir, as línguas se uniram, para que ninguém deixasse de ser compreendido pelo único poder central. As cidades passaram a ser povoadas por pessoas que não confiavam umas nas outras, pois o crime era freqüente naquelas paragens e, a justiça para estes, não corria para socorrer os mais fracos.

As ruas poluídas, costumavam ser fedorentas e sem energia, pois tudo que a humanidade construíra para seu bem estar, fora lhes tirado num piscar de olhos.

Os alimentos deixaram de ser dádiva a todos. Apenas quem possuía o numero cravado na carne, poderia comprar e vender. Aos que nada tinha marcado no corpo, ficavam a mercê dos que tudo podiam. A escolha estava em roubar ou esperar por uma ajuda.

Por isso, os olhos de Constanza estavam pregados para o lado de fora da janela, na rua coberta de folhas e lixo. Não havia mais pessoas na rua, pois o crepúsculo estava desaparecendo.

Nina e Rita ainda não haviam voltado. Tinham ido até o centro da cidade, onde pessoas, ainda generosas, distribuíam toda a semana, sestas básicas para aqueles que achavam merecedores.

Mas as duas mulheres nunca demoraram tanto para chegar, como neste dia e, Constanza, já começava a temer por elas.

A noite era amiga daqueles que faziam mal as outras pessoas. Não apenas pessoas de pensamentos malévolos, mas aqueles que outrora já foram humanos.

Aqueles que sua ganância os tinha transformado em seres que nunca se saciavam. Seus dentes viraram poderosas armas para dilacerar carnes e suas sede de sangue nunca terminava. Eram belos por fora, mas por dentro não tinham nada além da vontade de destruição.

Não temiam nada, além daqueles que vagavam na penumbra, caçando os movimentos eufóricos, sugando suas almas para o abismo que reflectia em seus olhos.

Nunca vira nenhum dos dois seres, mas ouvira muito sobre esses. Estas e outras criaturas que saíram das rochas de Cascais, assolavam a humanidade por toda a parte.

A Idade Media, que estudara na escola quando, ainda, criança, lhe pareceria o paraíso perto do presente. Onde ninguém respeitava leis e ninguém tinha fé em nada.

Constanza se sentia sozinha em suas orações. Rita deixara de confiar em qualquer que fosse a força que movia o mundo e, Nina, não conhecia outra realidade que não fosse aquela. A menina que tinha 15 anos, não se importava de acompanhar a avó em suas rezas, mas nem por isso a velha senhora conseguia fazer a menina acreditar em algo que os protegesse de todos aqueles males.

Rita não fazia questão que a filha acreditasse que, em algum lugar, alguém via o que se passava e mais tarde ou mais cedo, tudo iria terminar bem.

Sabia que não iria.

Balançou a cabeça negativamente. Aquela fila parecia não ter fim.

- Já estamos quase– Nina falou aliviada.

- O sol já começou a se por – Rita disse preocupada – Ainda temos muito que caminhar. Não chegaremos em casa antes do anoitecer.

Nina estremeceu. Nunca estivera na rua, quando tudo já estava escuro.

As luzes das ruas do subúrbio eram fracas e não alcançavam alguns pontos. Muitos deles, bocas de becos, que escondiam segredos violentos, como corpos ou vagabundos a espera de vitimas.

Foi com esse pensamento que, recebendo a sesta que lhes era dada e, com um breve agradecimento, a mulher magra e olhar distante, rimaram para as ruas estreitas do subúrbio.

Caminhavam a passos largos nas ruas mal iluminadas, temendo que a pouca luz que piscava de forma frenética, se apagasse.

Nina pensava em mil e uma coisas, ouvindo o salto do sapato de sua mãe, que abafava os seus próprios passos, aflitos para chegar em casa.

Era estranha a vontade de fazer uma oração. Pensava em uma daquelas que sua avó lhe ensinara, mas que agora seus pensamentos tortuosos confundia-os de forma a ficarem sem nexo.

Os últimos raios de sol estavam desaparecendo, para dar lugar a escuridão da noite e, em cada esquina sentiam-se observadas.

Nina via sua mãe olhar para todos os lados de forma incessante e, preocupada.

Olhava para a mãe de forma alarmante, ao pensar que algo poderia lhe acontecer. Mas a mulher alta, de cabelos negros, presos em coc, não conseguia se preocupar com ela mesma. Andava na frente, com passos duros.

A menina se perguntava se a mulher não teria medo. Sempre a vira como um general, que só saía de seu posto central, para ir buscar alimentos para seus soldados, no caso, Nina e sua avó.

Vestia sempre roupas escuras e raramente ria. Na verdade, Nina nunca a vira sorrir.

Rita não tinha motivo para isso. Quando tudo aquilo que se passava no presente estava no começo, soube que esperava um filho de um homem que a trocara por uma vida leviana.

Como poderia pensar em ser feliz com toda essa provação? Fora 15 anos de perdas e mais perdas. De medos e fugas e, parecia que a media que o tempo passava a situação só tendia a piorar. As pessoas estavam mais agressivas e, temia pela filha.

Talvez a única que não cumprira seu destino naquele lugar. Não estava disposta a permitir que algum mal lhe acontecesse.

Agora estavam sendo guiadas pelas poucas luzes que se estendiam na comprida rua de paralelepipedos.

Rita engoliu a seco tentando não mostrar nervosismo.

- Rápido!!! – Sussurrou.

Porem, antes que Nina pudesse se queixar do peso dos sacos ou da velocidade que já andavam, sentiu-se paralisar, levando um encontrão da outra que vinha atrás, de forma distraída.

- O que foi? – Nina perguntou sem entender.

- Shhhhh!!!!

Rita não precisou responder. De um beco, mais a frente, saíram dois homens, no qual um tinha uma garrafa na mão.

Viu o primeiro lhe fitar de forma pouco usual, enquanto o outro, que estava mais atrás, bebia goles largos do liquido que estava dentro de uma garrafa verde.

- Quando tiver oportunidade de passar, corra sem olhar para trás – Rita sussurrou.

- Mas...

- Não se preocupem – A voz do primeiro interrompeu a menina – Nós só queremos isso que vocês têm nas mãos – Disse apontando para as sacolas na mão de Rita.

Esta, por extinto, colocou as sacolas atrás do corpo.

O homem estreitou os olhos.

O segundo, assim que percebeu que não havia mais nada na garrafa, atacou-a contra o muro de uma casa, fazendo um barulho, que no silencio, parecia uma explosão quando esta estilhaçou.

- A menina também pode ficar – Disse, fazendo o outro rir.

Nina deu um passo atrás, enquanto Rita se colocava na frente. Tinha se prometido que ninguém tocaria na menina, nem que isso lhe custasse a vida. Além do mais, já estava cansada de viver daquele jeito.

- Se afastem! – Comando com voz arrogante e superior, não agradando os indivíduos de mal aspecto. – Lembre – disse baixo para Linda, quando viu os homens avançanrem – Corra.

- Mãe...

- Me de logo isso, sua nojenta – O segundo passou na frente, vindo rapidamente de encontro a Rita, que deu dois passos para trás.

Do que se seguiu, para Nina, fora tudo muito rápido. Quando o homem estava a centímetros de sua mãe, um vulto passou voando, carregando o homem, que na escuridão ainda gritava.

Rita recuou assustada, agarrando no braço da menina e correndo para um muro alto de uma casa abandonada. Sentaram ali, encolhidas.

O outro homem paralisou por segundos, mas tomando conciência do que poderia ser, virou para correr. Uma lamina fria perfurou sua barriga, atravessando-o e, saindo nas costas..

Nina abafou com a mão um grito de horror, enquanto Rita, olhava de forma estática.

Da penumbra, saíram três seres encapuzados, que caminhavam lentamente em sua direcção.

As mulheres se encolheram. Nina fitou as criaturas altas e, reparou que um brilho vermelho, que deveriam ser os olhos deles.

Encolheu-se mais. Coçou a palma da mão. Sabia muito bem o que o numero ali significava e, se isso servisse para salvar sua mãe, o faria.

Rita percebeu, pegando em um gesto leve na mão da menina. O olhar de nina se desviou para Rita.

- Não se mova – Rita sussurrou.

Como não se mover, quando seu corpo e mente pediam para que corresse?!

Quando voltou o olhar de esguelha para a criatura, se dera conta que ele estava abaixado a poucos centímetros de seu rosto.

Nina apertou a mão de sua mãe, que correspondeu ao gesto, com a mesma intensidade.

Sentia-o fungar sobre si, de forma barulhenta. Seu coração acelerou, fechando os olhos com força.

Quando não ouviu mais a respiração forte sobre si, abriu os olhos, aliviada.

Mas esse alivio durou muito pouco tempo quando percebeu que sua mãe já não estava mais lá.

Não sentira quando suas mãos se separaram.

Levantou rapidamente, olhando para todos os lados.

Sua respiração acelerada, denunciava sua aflição.

Não sabia o que pensar. Para onde teria ido?!

- Mãe?! – Chamou baixo – MÃE!?

Continua...

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