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Coração Negro

por Luís Bernardino ( Keroberus )

Tristeza, solidão, raiva. Raiva de tudo e todos; vingança. Ele abriu os olhos e inspirou a fria escuridão da noite. Era hora de caçar, sentia-o no fundo da sua alma.

Saltando de edifício em edifício ele sentia-se livre. Era livre de tudo. Livre para matar e morrer, mas também para dar vida.

Lançou-se para o topo de um pequeno edifício e ao aterrar recolheu as suas longas asas de corvo, lançando-as sobre os seus ombros como a uma capa.

Do topo do pequeno café mal iluminado ele cheirou sangue. Olhando para baixo viu uma humana. Jovem, fresca, no ponto. O bater do coração da sua jovem presa era como tambores nos seus ouvidos. O cheiro da sua carne tenra era como o chamamento para a caçada.

Seguiu-a, escondido na escuridão nocturna, reparando no complexo fato negro de renda que ela envergava. Folhos em lilás nas mangas e colarinho, lembravam-lhe o século XVII: eram tempos pacíficos esses, especialmente na França.

Ela entrou num beco e ele pressentiu que era a altura de se alimentar. Desceu do topo do prédio com demoníaca graciosidade, envolvendo-se na sua capa negra.

O que para muitos seria a escuridão para ele era dia. Nada escapava aos seus olhos vermelho-sangue.

Um relâmpago cortou a escuridão e chuva lançou-se do céu como um rio. O seu cabelo negro como breu ameaçava cobrir-lhe os olhos. Foi quando reparou que a pequena presa estava rodeada de um grupo de outros humanos. Eram três, musculosos mas nem por isso fortes; pelo menos comparados consigo mesmo. Eles cercavam-na. Ele conseguia cheirar endorfina a ser produzida no cérebro de todos, aquele sabor picante já na boca... ela tinha medo e eles estavam deliciados com a situação. Endorfina é produzida no cérebro quer para o bem ou para o mal. È o elixir do êxtase e da dor agonizante.

Sem a certeza do que fazer, ele parou, confuso, sob a chuva torrencial. Os homens tentavam agora rasgar as roupas da pobre rapariga. Que faria ele agora? Que fazer?

Foi então que se acendeu dentro dele a solução e um olhar resoluto tomou os seus olhos frios. Com grande velocidade ele saiu disparado, com os seus alvos definidos. Os pequenos gritos aflitos da sua pequena presa eram como doce musica para os seus ouvidos, mas isso não mudou os seus objectivos. Cravou os seus dedos nas costas de um dos homens e agarrou-lhe o coração. Conseguia senti-lo bater e de seguida, com um puxão vigoroso, arrancou-o. Ele foi tão rápido que, de certo, que o homem nem soube porque morreu.

Os outros dois homens pareciam assustados. Medo, que tolice inútil. Desfez a garganta de um com as suas mãos e abriu o peito a outro, arrancando-lhe o esterno e usando-o como adaga, rasgou-lhe os órgãos brutalmente.

No fim tudo estava silencioso. Apenas a chuva proferia a sua confusa sinfonia sobre o alcatrão disforme. A pobre rapariga estava agachada, soluçando á chuva, abraçando-se e ao seu vestido quase desfeito em pânico, medo, revolta... ele conseguia senti-los a todos.

Ele continuava á chuva, sangue escorrendo das suas mãos.

“Estás bem?” a sua voz soou grave e profunda como um abismo. Já não falava á tantos anos... nem se lembrava da ultima vez.

A rapariga olhou para ele, o seu salvador, o seu cavaleiro negro do qual apenas destinguia o perfil, tudo o resto era negro; e acenou.

“ Eu não te vou magoar.” E ajudou-a a levantar-se. “Mas preciso de companhia.”

Ela olhou-o assustada mas depois viu as longas asas negras nas costas do seu herói. “O... o que és tu?” Perguntou, ainda soluçando, tremendo agora de frio. A sua suave voz tresandava a medo.

“Eu sou..” uma pequena pausa, enquanto tentava ao certo lembrar-se do que era. Sabia que não era humano... mas o que seria? Após um minuto, ele respondeu: “Eu sou o que sou. Criatura da noite, caçador e presa... Nosferatu”

Ela acenou, compreensiva, e expôs o seu pescoço. Era a primeira vez que alguém se oferecia. Uma vez mais ele encontrava-se confuso. Mesmo assim abraçou-a e lentamente deslizou as suas presas no seu doce pescoço. O ar tresandava novamente a endorfina; mas se era de prazer ou de dor, ele não conseguia dizer. Lentamente ele conseguia ouvir o coração dela abrandar até parar. Ela cambaleou á chuva. Não restaria muito mais tempo até que ela morresse, já que as suas veias estavam ocas e o seu coração soluçava a seco. Para evitar isso, ele tomou-a nos seus braços e ofereceu-lhe o seu pulso. Imediatamente ela abraçou-o e os seus tenros lábios colaram-se ao seu pulso, sangue negro deslizando pelo seu queixo, tal era a sofreguidão. A mordida da rapariga doeu um pouco mas tornou-se uma doce paz assim que o seu sangue fluiu para a sequiosa boca da futura cria da noite.

Em breve seriam um só. O que seria aquela paz que sentia ao ver a rapariga, com os seus olhos mascarrados de rímel fechados enquanto ela sugava o seu amargo sangue numa tranquilidade angelical? Seria alguma espécie de amor obscuro? Fosse o que fosse, ele não queria que parasse.

Lentamente ela abriu os olhos e fitou-o com os seus doces olhos vermelho-sangue e ele sorriu.

“Pai...” A voz dela soou um pouco fraca. O gigante negro afagou-lhe o cabelo enquanto sorria.

“Chama-me Caim.” Sorrir era inevitável. Agora tinha uma filha e amante. Tinham passado séculos desde que tinha tido companhia. “e a ti, minha bela flor da noite, baptizo-te de Lótus.”

A pequena Lótus sorriu e abraçou-o, sentido a noite como a sua nova casa.

Agora caçavam lado a lado, ambos apreciando a companhia um do outro, amando-se e protegendo-se um ao outro.

FIM

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Inspirado por: “Enth e end” ;

“PPR:KUT” e “KRWLING” do álbum “REANIMATED” de Linkin Park

e Pierrot – Hill - Genkaku no Yuki e Torikago.

Mais uma ;)

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Hehe, já tinha lido esta. Já não me lembro é onde foi (clubOtaku?!).

Mas está exelente, gostei muito do ambiente que criaste. E adorei a maneira como nos pões a acompanhar a personagem Caim. Parabens.

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Foi no clubotako, também a li aí

Gosto mais desta o.o vamps /o/

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T-T dramático, enfim, gosto da maneira que escreves ^^ .

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Muito obrigado pelos comentários e sim, eu também tenho estas fics postadas no Kabegami do clubotaku ^_^

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Está lindo! Mas, is this the end? We never know...

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