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Tratado Filosófico sobre o Evento

3 mensagens neste tópico

Ir ou não ir, eis a questão. Pois bem, tenciono facilitar-vos a decisão estudando, reflectindo e apresentando uma tese sobre as virtudes e os malefícios de um potencial ingresso.

 

1. O conceito subjacente

Antes de analisar a nossa própria potencial presença, é oportuno ter uma noção do evento em concreto e do espírito no qual está inserido. Ou seja, o estudo prévio do conteúdo expectável, quer num sentido objectivo, quer no sentido mais subjectivo. Assim, recomenda-se a leitura do programa e da oferta, mas também um cross-checking com a pertinência de cada elemento desse conjunto para com a nossa gama de interesses. Isto é, se eu for a uma loja dos 300 à procura de porcelana da Vista Alegre sairei desiludido, com toda a probabilidade. A mesma coisa se eu for a uma daquelas asian shops à procura de massa, mas só têm noodles e o que eu queria mesmo era gnocchi (maneira italiana muito saborosa e tenrinha de fazer as massas). Cumpre o objectivo, mas não satisfaz, dado que o espírito da nossa intenção era oriundo de outra cultura, e portanto a filosofia gastronómica era diferente. Já dizia Schopenhauer, "Quanto mais restrito o nosso círculo de visão, acção e contacto, tanto mais felizes seremos; e, quanto mais amplo, tanto mais frequentemente nos sentiremos atormentados ou angustiados, pois, com essa ampliação, multiplicam-se e aumentam as preocupações, os desejos e os temores." 
Deve-se pois confrontar, por antecipação, o quanto a experiência porvir é passível de coincidir com as nossas expectativas. O que nos acaba por levar a concluir que há factores que podemos considerar passíveis de alimentar a nossa disponibilidade emocional para uma jornada deste género. Não obstante, atravessando longitudinalmente a esfera das possibilidades atrás descritas, está o quão depositamos nelas a noção de poderem ter repercussões positivas na nossa vertente cognito-emocional. Tentar ter presente esta realidade ao longo do texto é a fórmula para efectivamente tirar as conclusões devidas. Debrucemo-nos pois sobre alguns dos aspectos de um evento organizado sob um determinado denominador comum - o Japão.

 

2. A programação

Obviamente, a calendarização das ocorrências e actividades disponíveis é um excelente material para formar uma ideia bastante mais precisa daquilo que irá tomar lugar no âmbito do evento. Dizia Sigmund Freud, "A ciência não é uma ilusão, mas seria uma ilusão acreditar que poderemos encontrar noutro lugar o que ela não nos pode dar." Assim, pode-se inferir que a examinação da programação do evento é a forma mais aproximada e rigorosa de prever a consistência do decurso do evento. Devemos então confrontar os diversos itens da dita cuja com a nossa imaginação para poder antever exaustivamente o cenário expectável. Cientes dos limites dessa previsão geral, no sentido em que a realidade só é completa no presente, e não no futuro, consegue-se porém delinear todo um conjunto de possibilidades plausíveis para os acontecimentos, por oposição a possibilidades muito menos plausíveis. Por exemplo, se a programação incluir um concerto de Vocaloid, é muito pouco expectável que se verifique um recital de música clássica ou uma festa cigana no respectivo horário. Mesmo que venha a haver desvios da programação, dificilmente serão tão radicais que anulem o formato original, preservando-se até certo ponto e por definição de programação, o espírito do contexto intencional.

 

3. As actividades

Sejam jogos, concursos, workshops, ou apresentações, há uma panóplia de razões potenciais para justificar uma presença interessada, consoante o nosso espectro de vontades. Devemos no entanto ser meticulosos em separar o trigo do jóio: para cada item previsto, perceber o apelo subjacente ou a sua ausência, e tentar quantificar o número de correspondências, nesse sentido, positivas. Devemos, para cada um deles, definir o agrado ou interesse que lhe atribuimos, ou mesmo que lhe podemos atribuir dado o nosso contexto. Isto é, se formos anoréticos, teremos pouca sensibilidade para apreciar um workshop de culinária; se formos coxos, a dança não será a actividade mais indicada; se formos analfabetos, rejeitaremos a priori uma lição de caligrafia; e a listagem de exemplos poderia continuar. Este é, naturalmente, o confronto mais extremado. Mas há concerteza motivos menos óbvios mas igualmente vincados para tomarmos a decisão de abraçar ou não determinada parcela do evento. Dizia Einstein que, "Não creio, no sentido filosófico do termo, na liberdade do homem. Todos agem não apenas sob um constrangimento exterior mas também de acordo com uma necessidade interior." Ora isto não é mais do que definir que, ainda que reunidas as condições para frequentar determinada actividade, a opção de o fazer depende ainda das inclinações da parte envolvida. Um homem, ainda que não padeça de impotência, poderá recusar-se a um encontro com uma modelo, se for fetichista em relação a mulheres obesas. Ou vice-versa. Evidentemente, isto obriga-nos a conhecermo-nos bem a nós próprios: saber aquilo que mais apreciamos na vida. Por exemplo, um bárbaro gosta de chacinas, mas se calhar um intelectual prefere livros, e um intelectual emo livros de poesia em particular. A biodiversidade da espécie humana estabelece então o público alvo para cada acontecimento, e leva à distribuição mais apropriada dos demais no espaço, permitindo amplificar o leque de visados e trazer mais elementos no global. Dito de outra forma, a diversidade da oferta do evento é um factor directamente correlacionado com a quantidade de potenciais participantes. Naturalmente também que, a nossa quantidade de interesses também ajuda a maximizar ou a minimizar o nosso próprio usufruto. Pode também argumentar-se que o interesse é uma questão de disponibilidade interior, e disponibilizar-mo-nos à experiência pode ser uma aprendizagem, mesmo que não haja uma inclinação à priori para o agrado por determinado tema. Já dizia Confúcio, "O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros." Então, não existindo fortes razões para a recusa em participar ou assistir a uma destas ocasiões, um pequeno trabalho de introspecção pode gerar a oportunidade de considerar a participação em actividades inesperadas, e quem sabe até assim despertar novos interesses. Há sempre que equacionar o potencial intrínseco a cada experiência per se, mesmo que não nos sintamos especialmente vocacionados para dela disfrutar em plenitude. Sintetizando, compete ao nosso julgamento avaliar o quão dispostos estamos a tomar parte em algo, e o quão estamos dispostos a fazê-lo ainda que a motivação não ocorra como uma premissa natural. 

 

4. O merchandising

Consoante as disponibilidades económicas de cada um, bem como a sua vontade de posse de produtos de alguns dos géneros em exposição, as bancas de merchandising podem suscitar a oportunidade de descobrir itens que apelam à pessoa, quer pela sua originalidade, quer pela sua especificidade, ou quer pela sua raridade no exterior do evento. Para mais, a observação dos diversos artigos por si só pode ser do agrado, pela quantidade de itens que reúnam as condições atrás descritas, e dado o prazer que a examinação visual pode conferir pelas particularidades das formas, côres, e/ou utilidade dos artigos. Naturalmente, nem todos possuimos o mesmo grau de consumismo. No entanto, citando Henry Ford, "Não é o empregador quem paga os salários, mas o cliente." Pelo que, podemos também considerar razões éticas para adquirir produtos nas bancas do evento e alimentar a indústria em torno de temas que apreciamos, permitindo aos empregadores reunir o capital necessário para pagar aos seus trabalhadores, não sendo necessário um estudo aprofundado de economia para tirar esta inferência. Evidentemente, a responsabilidade que cada um quer ter na capitalização da indústria de merchandising de temas relacionados com a cultura japonesa vem do seu próprio sistema de valores aliado à sua própria tendência para o consumo, e não existe a forma correcta de actuar. Como em qualquer escolha ética, é a fundamentação utilizada que define o grau de validade, no sentido perfeccionista da examinação moral. É porém questionável o papel que a moral tem ou deve ter no julgamento de outro, pelo que toda esta questão se dilui e seria merecedora de todo um outro tratado filosófico. Zé Pedro dos Xutos captura bem esta dilemática ao celebrizar o pensamento: "Se no fundo do ser encontrarem razão então está bem."

 

5. O meio ambiente e o cosplay

Se o acto de participar numa actividade nos permite dirigir o foco e extrair resultados dessa direcção, ou se a aquisição ou observação de bens materiais nos remete à apreciação visual igualmente focada, é não menos verdade que a própria presença numa determinada envolvência tem em si propriedades próprias. Nomeadamente, a exposição ao espaço e aos seus elementos característicos que derivam de estar reservado a este contexto, mas também e talvez sobretudo à massa humana que o frequenta, especialmente tendo em conta a cultura muito própria de vestir que alguns adoptam neste tipo de evento, remete para uma forma de sentir por eles influenciada, e portanto, única e distinta daquela que se atravessa no quotidiano. Tentando aprofundar as respectivas nuances e a sua causalidade, há primeiro que definir a diferença exterior deste meio. Tendo raíz em personagens ficcionadas da cultura desenhada e animada japonesa, não pode deixar de se referir o cosplay - a encarnação da personagem através de vestimentas que mimicam a dela. Ora se é verdade que a exposição visual ao colorido já por si só remete a um estilo diferente e de assimilação visual que, por diferente, surpreende e por vezes encanta, da mesma forma talvez que um quadro, há para mais a evocação de personagens fantásticas que, uma vez do nosso agrado, alimentam através da percepção a própria dinâmica de apreço, por vezes até idolatração, que lhes associámos no passado, sem deixar de referir também as qualidades de representação que se assemelham de certa forma ao que podemos encontrar no teatro. Assim, funde-se aos nossos olhos a pessoa com a arte que ela pretende evocar e tudo aquilo que a ela já associámos, permitindo-nos uma certa deslocação mística do mundo real - não fisicamente, mas interiormente. De facto, já Fernando Pessoa tinha escrito: "O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar." Podemos conceptualizar que há então uma libertação da realidade mais costumeira, corriqueira, seja ela boa ou má (para muitos monótona, ou até mesmo desagradável, caso em que este outro mundo de fusão assume ainda maior relevo), através do cosplay, para um modo de estar diferente, que se mistura com a ficção, pelas razões atrás descritas. Evidentemente que tal efeito está correlacionado com o valor que nós intrinsecamente atribuirmos por um lado, à questão estética, e por outro à própria arte a que esta estética se refere. Assim, um desinteressado por este estilo não terá o mesmo prazer ou liberdade de viajar interiormente, que um aficionado do género. É como descreveu sucintamente e bem Anton Tchékov: "As obras de arte dividem-se em duas categorias: as de que gosto e as de que não gosto. Não conheço outro critério."

 

6. A socialização

Resta apôr a tudo isto o factor amizade. Efectivamente, a possibilidade de frequentar este evento em grupo, mais pequeno ou menos, abre portas para a interacção entre os seus integrantes, acrescentando então um novo vector ao dia. Ou seja, se é verdade que não é necessária a deslocação a um evento para socializar, a eventualidade de todos partilharem interesses comuns permite diálogos que se calhar noutro contexto não iriam surgir, e a própria partilha das experiências que o evento pode proporcionar e as conversas ou discussão em seu torno podem amplificar a experiência, além de a enriquecerem com a diferença de opinião ou particularidades dos gostos dos diversos intervenientes. Mais, parafraseando Karl Marx, "Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência." Então, o colectivo pode ajudar a moldar e/ou acentuar as vivências que ali se terão para umas em que a intensidade se multiplica pelo factor social. Mais uma vez, a importância deste factor, como de qualquer outro, é decidível por cada um, sendo certo que uma pessoa mais introvertida ou menos interessada no convívio não aporá tanta relevância a este aspecto.

 

7. Conclusão

Compete então a cada um e à sua consciência, sistematizar para cada uma das frentes que o evento acarreta, quais os atractivos potenciais, e em súmula decidir se são em quantidade suficiente para justificar uma ida. Mas se realmente os houver em quantidade, é fundamental então que a pessoa vá ao evento, dando corpo à sua intenção, perseguindo a sua atracção pelos aspectos seleccionados. Pois como Adolf Hitler constatou, "Não se pode viver verdadeiramente e desistir do que dá significado e propósito a uma vida inteira."
 

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Ou seja:

1. Há sítios fixes onde todos podemos ir ser geeks na boa;
2. Têm várias cenas lá dentro;
3. Podemos brincar;
4. Fazer compras;
5. Mascarar-nos;
6. Lanchar;
7. Bora.

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HAHAHAHA conseguiste capturar tudo! Alguém que me compreende :)

 

há 13 minutos, Urza disse:

Ou seja:

1. Há sítios fixes onde todos podemos ir ser geeks na boa;
2. Têm várias cenas lá dentro;
3. Podemos brincar;
4. Fazer compras;
5. Mascarar-nos;
6. Lanchar;
7. Bora.

 

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